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Agencia Lusa
“O projeto de deslocação envolveu engenheiros, peritos de diferentes áreas, técnicos de restauro e foi desenvolvido pelos arquitetos Luís Sanchez Carvalho e João Correia Monteiro que destacam ainda, na obra, os espaços exteriores construídos de novo como estruturas de apoio, uma hospedaria, um bar restaurante, um espaço museológico e administrativo, uma plataforma de missa campal, um palco para espetáculos e instalações sanitárias públicas.”
A chuva deste sábado fez pairar sobre a inauguração do novo santuário do Santo Antão da Barca, em Alfândega da Fé, antigos receios de que “o santo não queria ser mudado” e manifestava descontentamento com a subida obrigada pela barragem do Sabor. “Deus não se opõe ao progresso e ao bem-estar do homem” retorquiu o pároco José António Machado perante os temores de alguns devotos, que se foram esvanecendo com o início da festa de inauguração do novo santuário e a entrada na capela translada pedra por pedra, num processo que até um helicóptero envolveu para o transporte da abóbada inteira.
Foram precisos quatro anos para pensar, executar e lidar com os “tesouros descobertos”, nomeadamente os frescos do século XVIII, na deslocação do santuário de junto ao rio para o cimo da colina. Já a rezar no novo espaço, um grupo de mulheres acabou por anuir: o Santo Antão deve estar satisfeito”. E os devotos também, como Lisete Araújo que garantiu à Lusa: “entrei e vi a mesma capela”. “Até ficou mais bonita por estar restaurada”, asseverou Fernando Freitas, ao ver a capela onde casou há 39 anos e que agora mudou de local, um quilómetro acima do antigo. Nos comentários entre devotos repetia-se a observação de que “lá em baixo”, no santuário que ainda avistam desmantelado, “a capela estava a perder-se, não havia dinheiro para o compor e as outras casas também vinham abaixo”. O pároco expressou admiração pelo trabalho realizado e, em jeito de remate da polémica do afogamento do Santo Antão que se arrasta há mais de uma década, disse aos fiéis: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e também se mudam os santuários, quando necessário”.
Esta mudança foi necessária para construir a barragem do Baixo Sabor que já começou a encher e vai criar uma albufeira com 50 quilómetros, desde Torre de Moncorvo, a Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros. Foram investidos mais de quatro milhões de euros para deslocar o santuário, como adiantou hoje à Lusa Lopes dos Santos, diretor de projeto da barragem da EDP. Faltam ainda alguns acabamentos coma a arborização e a praia fluvial que irá se reconstruída quando o rio se aproximar do novo santuário. O responsável da EDP prevê que na próxima festa “o enquadramento será completamente diferente, com água por quase todos os lados” e o santuário novamente junto ao rio. O Sabor, agora com 30 metros de profundidade, vai subir mais cerca de 70 metros. O projeto de deslocação envolveu engenheiros, peritos de diferentes áreas, técnicos de restauro e foi desenvolvido pelos arquitetos Luís Sanchez Carvalho e João Correia Monteiro que destacam ainda, na obra, os espaços exteriores construídos de novo como estruturas de apoio, uma hospedaria, um bar restaurante, um espaço museológico e administrativo, uma plataforma de missa campal, um palco para espetáculos e instalações sanitárias públicas.
A mudança “não é uma perda, é um enriquecimento a todos os níveis”, na opinião do bispo da Diocese de Bragança-Miranda, José Cordeiro, que hoje benzeu o novo espaço. Natural da aldeia de Parada, onde pertence o santuário, o mais jovem bispo de Portugal conhece bem este local de culto com 270 anos. Para José Cordeiro, “este santuário que ficará quase todo rodeado de água, não pode ser como uma ilha, mas tem de estabelecer ligação com outros santuário” e no concelho de Alfândega da Fé há mais dois, o dos Cerejais e da Senhora das Neves, que vão ficar também banhados pela nova albufeira. A barragem do Sabor formará três grandes lagos que os autarcas locais querem usar como imagem de marca. Um deles é o lago dos santuários que o bispo diocesano gostaria de ver transformado num roteiro de fé e “numa mais-valia para o culto, cultura, turismo e para o desenvolvimento integral desta região”.